Na categoria das experiências humanas consideradas universais – aquelas vividas por todos, independentemente de cultura, escolaridade, classe social, gênero, etc. – certamente podemos incluir a insegurança. Em diversos momentos inevitavelmente sentimos algo que seria bem descrito se disséssemos: “me sinto inseguro(a)”. E provavelmente, ao longo do curso de uma vida, iremos revisitar inúmeras vezes esta experiência.
Importa destacar que, o fato de ser a insegurança uma experiência universal, não significa que seja vivida por todos da mesma forma, no mesmo grau, nas mesmas circunstâncias. Embora universal, trata-se de uma experiência profundamente íntima e pessoal; o que não nos impede de identificar nestas diversas experiências algumas características comuns e fundamentais. Gostaria de enumerar aqui algumas delas.
Uma característica essencial da insegurança reside na impossibilidade de garantias. A insegurança nasce no solo adubado pela incerteza. Sinto-me inseguro diante de uma situação em que não tenho certeza sobre como devo agir; em que não tenho garantias se serei admirado(a) ou reprovado(a); se as consequências de alguma ação serão positivas ou negativas; se serei capaz de conseguir aquilo que tanto quero, ou se serei capaz de afastar-me daquilo que tanto temo. São inúmeras as situações que podem nos despertar insegurança; situações dentre as quais a ausência de garantias se faz elemento comum. Talvez o caráter universal da insegurança resulte do fato de que a própria estrutura da vida, que padece de crônica indeterminação e imprevisibilidade, não permita que gozemos de muitas garantias.
Outra característica fundamental é seu direcionamento ao futuro. Sentimo-nos inseguros em relação a algo que ainda reside no futuro (complexo tempo que, se por um lado abriga os sonhos e as utopias humanas, por outro é o abrigo das incertezas). O passado, embora possa alimentar ou justificar a insegurança por guardar lembranças de experiências frustradas ou indesejadas, não é alvo desta. Embora a insegurança possa fincar raízes em experiências passadas, emerge quando apontam no horizonte incertezas futuras das quais não temos garantia se saberemos ou não enfrentar adequadamente.
Aliás, a desconfiança quanto aos recursos e habilidades pessoais necessários para lidar com determinada situação cumprem relevante função na configuração da insegurança e na determinação do grau em que esta será experimentada. Sentir-se impotente diante de determinada ocasião, ou julgar que os recursos e habilidades pessoais que se possui são insuficientes para lidar adequadamente com as dificuldades que possam se apresentar, mostram-se como condições básicas para o nascimento da insegurança.
Outro fator decisivo para determinar o grau de insegurança experimentado refere-se à importância do que está em jogo. Diante de alguma circunstância dotada de grande importância/valor pessoal em que não há garantias sobre seu desfecho, a insegurança tende a estabelecer-se tão imponente quanto a importância do que ela se refere. O grau de insegurança, talvez, possa funcionar como um ‘termômetro’ que nos indique a importância pessoal de algo, de alguém, de algum valor ou evento.
São estes somente alguns dos ingredientes que compõem a complexa experiência humana da insegurança. Experiência que guarda algo em comum com outras experiências como a frustração, a solidão, o luto, o medo, dentre tantas outras: são profundamente desagradáveis, e até dolorosas, mas são inerentes à condição humana. Vivê-las não é demérito algum, pois ninguém está imune. Vivenciá-las talvez seja um convite ao amadurecimento e ao aprendizado, ou talvez um lembrete de que estes são necessários.
Angelo Antônio Santos Cardoso
Ângelo você conseguiu "prender" minha atenção no seu texto do início ao fim! Parabéns, gostei muito do seu texto e da sua escrita! :)
ResponderExcluirQue bom que gostou, Luciene! Fico lisonjeado com seu comentário. Espero que os novos textos continuem prendendo sua atenção. Abraço!
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