quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Insegurança

Na categoria das experiências humanas consideradas universais – aquelas vividas por todos, independentemente de cultura, escolaridade, classe social, gênero, etc. – certamente podemos incluir a insegurança. Em diversos momentos inevitavelmente sentimos algo que seria bem descrito se disséssemos: “me sinto inseguro(a)”. E provavelmente, ao longo do curso de uma vida, iremos revisitar inúmeras vezes esta experiência.

Importa destacar que, o fato de ser a insegurança uma experiência universal, não significa que seja vivida por todos da mesma forma, no mesmo grau, nas mesmas circunstâncias. Embora universal, trata-se de uma experiência profundamente íntima e pessoal; o que não nos impede de identificar nestas diversas experiências algumas características comuns e fundamentais. Gostaria de enumerar aqui algumas delas.

Uma característica essencial da insegurança reside na impossibilidade de garantias. A insegurança nasce no solo adubado pela incerteza. Sinto-me inseguro diante de uma situação em que não tenho certeza sobre como devo agir; em que não tenho garantias se serei admirado(a) ou reprovado(a); se as consequências de alguma ação serão positivas ou negativas; se serei capaz de conseguir aquilo que tanto quero, ou se serei capaz de afastar-me daquilo que tanto temo. São inúmeras as situações que podem nos despertar insegurança; situações dentre as quais a ausência de garantias se faz elemento comum. Talvez o caráter universal da insegurança resulte do fato de que a própria estrutura da vida, que padece de crônica indeterminação e imprevisibilidade, não permita que gozemos de muitas garantias.

Outra característica fundamental é seu direcionamento ao futuro. Sentimo-nos inseguros em relação a algo que ainda reside no futuro (complexo tempo que, se por um lado abriga os sonhos e as utopias humanas, por outro é o abrigo das incertezas). O passado, embora possa alimentar ou justificar a insegurança por guardar lembranças de experiências frustradas ou indesejadas, não é alvo desta. Embora a insegurança possa fincar raízes em experiências passadas, emerge quando apontam no horizonte incertezas futuras das quais não temos garantia se saberemos ou não enfrentar adequadamente.

Aliás, a desconfiança quanto aos recursos e habilidades pessoais necessários para lidar com determinada situação cumprem relevante função na configuração da insegurança e na determinação do grau em que esta será experimentada. Sentir-se impotente diante de determinada ocasião, ou julgar que os recursos e habilidades pessoais que se possui são insuficientes para lidar adequadamente com as dificuldades que possam se apresentar, mostram-se como condições básicas para o nascimento da insegurança.

Outro fator decisivo para determinar o grau de insegurança experimentado refere-se à importância do que está em jogo. Diante de alguma circunstância dotada de grande importância/valor pessoal em que não há garantias sobre seu desfecho, a insegurança tende a estabelecer-se tão imponente quanto a importância do que ela se refere. O grau de insegurança, talvez, possa funcionar como um ‘termômetro’ que nos indique a importância pessoal de algo, de alguém, de algum valor ou evento.

São estes somente alguns dos ingredientes que compõem a complexa experiência humana da insegurança. Experiência que guarda algo em comum com outras experiências como a frustração, a solidão, o luto, o medo, dentre tantas outras: são profundamente desagradáveis, e até dolorosas, mas são inerentes à condição humana. Vivê-las não é demérito algum, pois ninguém está imune. Vivenciá-las talvez seja um convite ao amadurecimento e ao aprendizado, ou talvez um lembrete de que estes são necessários.

Angelo Antônio Santos Cardoso

2 comentários:

  1. Ângelo você conseguiu "prender" minha atenção no seu texto do início ao fim! Parabéns, gostei muito do seu texto e da sua escrita! :)

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    1. Que bom que gostou, Luciene! Fico lisonjeado com seu comentário. Espero que os novos textos continuem prendendo sua atenção. Abraço!

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